A articulação das
Ciências Básicas com as Atividades Clínicas, a
desenvolver-se nos Projetos UNI, representa um
desafio interessante que apresenta muitas variáveis
a serem consideradas. A seguir se indicam algumas
delas, bem como considerações que poderiam ser
tomadas como base para um estudo em cada um dos
casos.
Ensino das Ciências Básicas
Existem diversas modalidades que indicam os
conhecimentos de Ciências Básicas nas carreiras de
Odontologia, relacionadas com os planos de estudo,
sejam estes horizontais, diagonais ou por unidades
temáticas orientadas para a solução de problemas.
Esta última é a menos frequente, porque inclui
mudanças profundas e complexas na organização
curricular. Atualmente, o mais comum são os
propósitos de diagonalização, nos quais se
incluem, nos primeiros anos, cursos ou atividades do
trabalho profissional ou do conhecimento da
comunidade. Nem sempre se observa que as disciplinas
básicas estejam de alguma forma integradas nos
cursos clínicos, seja formal ou informalmente.
Espera-se que esta associação se produza através
do ensino destas matérias pelos docentes, o que não
se alcança, em decorrência da visão parcial e
especializada que os mesmos têm da Odontologia e de
sua falta de atualização em conhecimentos básicos,
o que não lhes permite integrá-los.
Outro aspecto
importante que se deve considerar, a fim de poder
avaliar as possibilidades de articulação com as
disciplinas clínicas, é o de quem ministra os
cursos de ciências básicas. Em algumas ocasiões,
estes são dados por odontólogos pertencentes ao
corpo acadêmico da Faculdade mas, às vezes, este é
um serviço prestado por uma Faculdade diferente, e
na qual participam profissionais de uma área
distinta das ciências biológicas ou da saúde.
Indubitavelmente, ocorrem casos em que os docentes
podem ser odontólogos contratados por outra unidade
acadêmica e que têm responsabilidades com os alunos
de Odontologia e, também, que a mesma Faculdade
tenha professores que não são odontólogos.
Características dos Serviços de Saúde
Se a articulação das Ciências Básicas com as
atividades Clínicas dentro da mesma Faculdade é
deficiente, esta é mais ainda nos Serviços com os
quais se deve atuar de maneira coordenada, para
alcançar os objetivos do Projeto UNI. A maior parte
da atenção primária se desenvolve em
consultórios, seja em conjunto com outras áreas da
equipe de Saúde ou isolada, mas sem ocorrer uma
verdadeira interação nas ações realizadas pelos
diferentes profissionais. Geralmente, a prática
odontológica é rotineira, sem uma criatividade
maior, limitando-se à repetição de ações
destinadas a atender às exigências administrativas.
Em algumas circustâncias, existem equipes nos
hospitais que se entrosam melhor com médicos,
enfermeiras, etc, de outros serviços, mas estas são
minoria e, muitas vezes, dependem da vontade
individual das pessoas que as dirigem.
Nas condições
descritas, as Ciências Básicas não se articulam
com a prática odontológica, o que provoca uma
diminuição da sua qualidade e a limita em relação
às possibilidades de cobrir outras áreas
importantes dentro da mesma atenção primária.
Possibilidades de Articulação das
Ciências Básicas com as Clínicas nos Projetos UNI
Partindo de um pressuposto, baseado nas
características da maior parte dos planos de estudo
das carreiras de Odontologia, a articulação desta
disciplina se faz de maneira precária. É
interesante estudar as possibilidades que a prática
odontológica oferece na comunidade para produzir uma
mudança na situação atual, orientada para a melhor
formação dos alunos e a criação de comportamento
diferente dos tradicionais. Sem dúvida, existem
vantagens em fazê-lo, mas também há aspectos que
poderiam ser considerados negativos, o que viria a
interferir no alcance dos objetivos propostos.
Entre os primeiros,
poderíamos mencionar:
- Orientar as
Ciências Básicas para problemas
odontológicos;
- Incorporar bases
biológicas à prática odontológica.
- Desenvolver ou
aplicar procedimentos de diagnóstico ou de
laboratório à Clínica Odontológica.
- Motivar os
docentes de Ciências Básicas para a
prática odontológica.
- Articulação da
equipe odontológica com os outros
profissionais da Saúde, através da análise
multidisciplinar de problemas concretos.
- Reatualização
ou reforço de conhecimentos.Entre os
aspectos que poderiam ser considerados como
desvantagens, estariam:
- Incorporar
fatores de divergêcia que não são bem
aceitos, e que possam interferir no
rendimento clínico.
- Desviar recursos
humanos das Ciências Básicas.
- Pouco ou nenhum
valor de procedimentos de laboratório como
facilitadores do diagnóstico.
Níveis de Articulação das
Ciências Básicas nos Projetos UNI.
A articulação das Ciências Básicas nas
atividades programadas nos projetos UNI poderia ser
feita de forma e complexidade diferentes. Havia que
considerar as características próprias de cada
instituição e as possibilidades concretas de
realizá-la, antes de tomar uma decisão.
Estrategicamente, é melhor estabelecer objetivos que
possam alcançar, e que uma vez alcançados possam
ser ampliados. A articulação poderia ser obtida em
um dos seguintes níveis:
- Buscar a
integração das Ciências Básicas em todas
as atividades curriculares.
- Incorporar os
docentes de Ciências Básicas em atividades
clínicas a serem desenvolvidas na
assistência comunitária.
- Aplicar conceitos
de Ciências Básicas nas ações planejadas
com assessoria de seus docentes.
Áreas de Ação das Ciências
Básicas na Prática Odontológica dos Projetos UNI
Independentemente do nível que se prefira,
existem algumas ações que podem ser realizadas para
serem aplicadas na assistência clínica. É
importante conseguir uma motivação dos
profissionais, alunos e pessoal, que se traduza na
convicção de que se pode dar melhor serviço e
desenvolver um exercício profissional criativo,
através da aplicação dos fundamentos biológicos
da Odontologia. Para isso, é preciso fazer esforço
para a capacitação de todos os integrantes da
equipe, e, de preferência, integrados com os outros
profissionais da Saúde do Serviço respectivo. É
uma forma de criar uma linguagem comum e um
conhecimento dos campos de área, o que pode permitir
uma melhor aproximação e coordenação das
atividades. Algumas destas possíveis ações são:
- Capacitar a
equipe de Odontologia dos serviços
comprometidos no Projeto UNI.
- Capacitar os
docentes clínicos em Clínicas Básicas.
- Informar aos
docentes de Clínicas Básicas sobre a
problemática clínica.
- Reforçar nos
alunos conceitos já dados, tanto em
Clínicas Básicas como Clínicas, através
de meios audiovisuais e elementos de
educação contínua, vídeos, manuais,
sobretudo aqueles que têm importância na
assistência comunitária.
- Desenvolver, nos
serviços, unidades temáticas integradas de
problemas odontológicos de interesse para
toda a equipe de saúde em diferentes
níveis, para serem discutidos em conjunto.
Estas reuniões devem ser realizadas de
maneira sistemática, permanente, e de forma
alternada, por médicos, enfermeiras,
odontólogos, etc. Como exemplo, pode se
citar o manejo da dor, com todos os
componentes Básicos e o Clínicos.
- Formular
Diagnósticos Integrais, considerando todos
os aspectos que constituem os componentes
sócioeconômicos, biológicos, etc.,
através de fichas clínicas adequadas e bem
estruturadas, que permitam estabelecer a
história clínica e orientar a anamnese. A
situação ideal é que se consiga a
colaboração com a avaliação médica do
paciente, pesquisando doenças precoces
sistêmicas e não prevalentes da cavidade
oral. É importante, também, a
participação no controle dos indivíduos
sadios, crianças, gestantes, etc. Os
conhecimentos básicos estão envolvidos em
todos estes aspectos.
- Desenvolver
investigações em problemas da comunidade,
utilizando ou aplicando metodologias
próprias das ciências básicas. Por
exemplo, teor de flúor nas fontes de água,
controle bacteriológico das mesmas, valor
energético da dieta comum, etc.
- Aplicar
conhecimentos das Ciências Básicas a fim de
contribuir para uma melhor ação preventiva
e curativa. Desenvolver métodos de
diagnóstico de laboratório que permitam
realizá-los nos consultórios, seja total ou
parcialmente. Estes têm que ser orientados
para os problemas prevalentes de saúde.
- Reforçar as
medidas de Bio-segurança, através do
conhecimento de seus fundamentos.
- Planejar e
promover o autocuidado da Saúde, mediante
procedimentos simples, mas baseados em
princípios sólidos do conhecimento da
doença, tanto básicos como clínicos.
Deve-se estudar as comunidades para
determinar quais são os fatores de risco que
nelas existem e, assim, pesquisar as
alterações de maior prevalência que lhes
são próprias, utilizando o auto-exame.
Projeção para o Futuro da
Articulação das Ciências Básicas com as
Clínicas.
Este processo não deve ser considerado como um
exercício intelectual orientado para satisfazer
algumas inquietudes acadêmicas. Para que tenha um
valor real e perdure no tempo, para além do Projeto
UNI, é preciso que tenha um efeito nas modalidades
da assistência odontológica, produzindo uma
mudança destinada a aperfeiçoar o atendimento que
presta nos Serviços. Para isso, devem ser adotadas
as medidas necessárias baseadas na realidade
concreta de cada uma das comunidades e que contribuam
para melhorar suas condições de saúde. Além
disso, é indispensável que, dentro da Faculdade, se
traduzam em mudanças curriculares, para que o que se
propõe seja coerente com o que se realiza fora dos
recintos universitários. O diálogo entre as
profissões da Saúde deve ser igualmente realista,
baseado em problemas comuns e no devido respeito que
é necessário que exista. É interessante buscar uma
forma de interagir e aproveitar as experiências
enriquecedoras com que cada profissão pode
contribuir. As Ciên cias Básicas são
compartilhadas e, através delas, é possível
encontrar elementos de integração.
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